Existem mais semelhanças a unir tatuados e não tatuados do que diferenças a separar. Nenhuma surpresa, afinal somos todos seres humanos.
Um estudo que pesquisou a relação entre tatuagem e agressividade observando um grupo de pessoas não tatuadas comparado a outro de pessoas tatuadas não chegou a uma conclusão precisa. Ou seja, não é possível afirmar que pessoas tatuadas são mais agressivas que não tatuadas como disse uma matéria do The Mirror há dez dias _matéria essa reproduzida por diversos outros veículos, inclusive brasileiros.
Pior do que aceitar a interpretação do The Mirror como verdade absoluta e reforçar um preconceito existente na sociedade com a tatuagem e pessoas tatuadas, esses sites e jornais sequer verificaram as informações e cometeram erros primários como errar o sexo do professor coordenador da pesquisa e a universidade a qual é vinculado na Inglaterra. Convenhamos, isso é bem mais do que erro de tradução.
Segundo o artigo publicado pela Elsevier (maior editora de literatura médica e científica do mundo) pessoas tatuadas se autodeclararam com tendência à ‘rebeldia reativa’, que nada mais é do que reação à violência imposta, intolerância ao autoritarismo. Isso significa dizer que tatuados reagem mais à imposições autoritárias do que não tatuados, e é nesse ponto que aparece a maior diferença. Na observação de outras características comportamentais como ‘agressão física’, ‘agressão verbal’, ‘ira’, ‘hostilidade’ e ‘rebeldia pró-ativa’ o estudo não apresentou diferenças significativas entre tatuados e não tatuados.
O Jornal O Globo chegou a escrever _em negrito, como que estivessem fazendo uma citação_ que "tatuados são mais agressivos, raivosos e rebeldes do que pessoas sem tatuagem". Nem preciso dizer o quanto isso é nocivo e torpe numa sociedade que já discrimina e marginaliza a tatuagem, né?
A pesquisa feita pelos professores Viren Swami (Universidade de Westminster, Inglaterra e Universidade College, Malásia), Helen Gaughana (Universidade de Westminster, Inglaterra),Ulrich S. Tranc (Universidade de Vienna, Áustria), Tim Kuhlmannd e Stefan Stieger(Universidade de Konstanz, Alemanha) e Martin Voracekc (Universidade de Vienna, Áustria) responde a pergunta: “Are tattooed adults really more aggressive and rebellious than those without tattoos?” (“Adultos tatuados são realmente mais agressivos e rebeldes do que aqueles sem tatuagens?”). Foram ouvidos 378 adultos, com idade entre 20 e 59 anos.
A última frase da conclusão do estudo diz:
“(…) nossos resultados sugerem que, embora os estereótipos de indivíduos tatuados como adultos agressivos e rebeldes possam conter um núcleo de verdade, tatuados e não-tatuados podem realmente ser bastante semelhantes entre si. Como tatuagens tornam-se cada vez mais do gosto popular, parece provável que quaisquer diferenças anteriores entre os grupos estão cada vez mais esgarçadas.”
Continuamos sendo discriminados por utilizar arte no corpo.
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